Sete Novos Desejos
Tendo este novo Objeto em
sua vida, vemos pelo exemplo de Paulo em que resulta ter essa meta, naqueles
com ela ocupados. Ele tinha desejos completamente novos – todos centrados em
Cristo. Estar ocupado com esse novo Objeto produziu uma provisão infinita de
energia que o manteve ativo na carreira Cristã. De acordo com o caráter da
epístola, ele não diz aos filipenses para perseguirem Cristo em glória, mas
sim, fala disso como uma questão de sua própria experiência. Assim, fala da
perspectiva do que isso produziu em sua vida, sabendo que reiterar sua
experiência faria com que eles desejassem o mesmo (Ct 6:1).
Nesta
próxima série de versículos, Paulo fala de sete
novos desejos em sua vida, todos os quais resultaram em ele tendo este novo
Objeto. Estas eram coisas que ele estava insistindo na carreira Cristã:
1) “Para que possa ganhar a Cristo” (v. 8) – Ao afirmar isso, Paulo não estava
dizendo que esperava ganhar a Cristo como seu Salvador, renunciando à sua vida
passada; Cristo tinha sido seu Salvador por 30 anos! Essa é uma ideia católica;
eles erroneamente ensinam que uma pessoa ganha a Cristo e a salvação eterna por
meio de obras. Eles encorajam as pessoas a renunciarem a todas as coisas da
vida e a se retirarem para um mosteiro ou convento, onde se engajam em um
regime de boas obras na esperança de assegurar a salvação de suas almas.
O versículo estando no tempo presente, indica
que o fato de Paulo ter Cristo como seu ganho era um exercício presente, bem
como o que tinha n’Ele ao recebê-lo como seu Salvador muitos anos antes. Paulo
viu aquelas coisas que uma vez perseguiu como um obstáculo aos imensuráveis
benefícios que havia em conhecer e seguir a Cristo. Ele percebeu que para “ganhar” na prática em sua experiência
com Cristo, precisava manter as satisfações carnais, como aquelas que tinha
renunciado, no monturo – e isso é exatamente o que ele fez pelo o resto de seus
dias na Terra.
2) Ser “achado n’Ele, não
tendo a minha justiça” (v. 9) – Esta afirmação não significa que
Paulo não era considerado justo diante de Deus, e estava, portanto,
esforçando-se diligentemente para isso, esperando que um dia, no final de seu
caminho, fosse declarado justo. Novamente, o catolicismo romano ensinaria
assim, mas não as Escrituras. Paulo já era considerado justo diante de Deus
como resultado de ter sido justificado pela fé (Rm 4:5, 5:1). Em vez disso,
Paulo estava se referindo a tê-la como um homem glorificado no dia de Cristo.
Ele não queria estar lá com uma justiça legal que resultasse de suas próprias
obras (se isso fosse possível), mas na justiça que está em Cristo (2 Co 5:21).
Assim, queria estar com Cristo em glória sem ter nada que pudesse apontar que
desse a ele crédito por estar lá, de modo que Cristo recebesse todo o crédito,
e toda a glória e louvor fossem para Ele.
3) “Para conhecê-Lo” (v. 10a) – Enquanto isso, no caminho,
estando com Cristo no estado glorificado, o grande e ardente desejo de Paulo
era conhecer a Cristo mais intimamente. Note que ele não disse que queria saber
coisas sobre Ele, em relação a fatos,
mas sim que ele pudesse conhecer a Cristo. Isto se refere a um conhecimento
pessoal de Cristo que só vem por meio da experiência de andar com Ele nas
circunstâncias da vida.
4) “E à virtude [poder – ATB] da Sua ressurreição” (v. 10b) – Tem havido algum debate
entre os expositores sobre se isso está se referindo à ressurreição literal ou
ao poder da vida de ressurreição trabalhando em um crente de uma maneira
prática. Visto que é mencionado no texto antes
de Paulo falar da possibilidade de morrer por Cristo, consideramos que ele
está falando do poder espiritual da vida ressurreta sendo manifestada na vida dele. J. N.
Darby concorda com isso: “Pergunta. O
que é ‘o poder da ressurreição’ em Filipenses? Resposta... para que eu possa agir e andar por este mundo no poder
da ressurreição, o que faz da morte e de todas as outras coisas nada para mim”
(Notes and Jottings, pág. 441).
Em Efésios 1:19-21, Paulo menciona que o poder de Deus que ressuscitou
Cristo dos mortos está agora “sobre nós, os que
cremos”. Isto é, ele é eficaz na vida dos crentes
que andam em Espírito, e assim, manifestam a vida ressurreta em seus corpos
mortais. Paulo queria experimentar esse poder prático da vida ressurreta como algo
vivo presente em sua vida (Gl 2:20). Isso é ilustrado como tipo em Eliseu
assumindo o manto de Elias no Jordão, indo adiante nesse poder e sendo uma
bênção para os outros (2 Rs 2:9-15).
5) “E à comunhão dos Seus sofrimentos” (ARA), “sendo feito conforme à Sua morte” (v. 10c) – Viver no poder da vida ressurreta e
manifestar essa vida em nosso andar e caminhos, naturalmente atrairá a
perseguição dos incrédulos. Paulo fala dessa oposição que os Cristãos têm no
caminho como “comunhão” com os “sofrimentos” de Cristo. Isto é porque
quando sofremos por Cristo, estamos realmente experimentando o mesmo caráter de
sofrimentos que Ele enfrentou de homens iníquos (2 Co1:5, 4:10; Gl 6:17; Cl
1:24). Esses sofrimentos não são Seus sofrimentos expiatórios, pois nenhuma
criatura pode participar da obra expiatória de Cristo (Mc 10:38). Como regra,
quando a Escritura fala do “sofrimento”
(singular) de Cristo, tem a ver com expiação (Hb 2:9), mas quando fala dos “sofrimentos” de Cristo (plural), são
os sofrimentos do martírio (Hb 2:10), em que os crentes participam quando
sofrem por Ele.
Todo o desejo de Paulo
era ser como Cristo de todas as maneiras possíveis. Isso era sua paixão.
(Novamente, isso é Cristianismo normal.)
Ele queria alcançar Cristo em glória e, com esse fim em vista, estava preparado
para se “conformar” à “morte” de
Cristo e morrer como um mártir para alcançar esse destino. Vivendo uma vida de
devoção a Cristo como Paulo fez, havia uma possibilidade muito real de isso
acontecer. É como ele disse: “Se eu morrer nas mãos de homens maus, então serei
muito mais parecido com Cristo, pois Ele foi morto por homens maus também! Nada
me agradaria mais do que alcançar a Cristo em glória pelo mesmo caminho que Ele
tomou para chegar lá!”
6) “Para ver se
de alguma maneira posso chegar à ressurreição dos mortos” (v. 11) – Se realmente fosse a vontade de
Deus que Paulo morresse por causa seu testemunho por Cristo, ele estava
disposto a isso (2 Co 5:8), porque então experimentaria o poder literal da
ressurreição, como Cristo fez quando ressuscitou de entre os mortos. Isso só o
tornaria um tanto mais parecido com Cristo!
As escrituras indicam que há duas
ressurreições que ocorrerão com cerca de mil anos entre elas (Jo 5:29). Estas
são as ressurreições dos “justos e
injustos” (At 24:15). Isso é algo que os santos do Velho Testamento não
sabiam; eles só conheciam a ressurreição de um modo geral (Jo 11:24). O
evangelho lançou luz sobre este assunto (2 Tm 1:10), e agora sabemos que
existem duas ressurreições:
A primeira
ressurreição, que tem a ver com a ressurreição dos justos, é mencionada como
sendo uma ressurreição “de entre os
mortos” na tradução de J. N. Darby. Assim, é algo seletivo; os justos
mortos serão selecionados de entre os iníquos mortos e ressuscitados para a
vida. Essa “ressurreição seletiva” como
às vezes é chamada, foi ensinada primeiro pelo Senhor Jesus Cristo (Mt 17:9) e
depois pelos apóstolos (Rm 6:4; 1 Co 15:20; Ef 1:20; Fp 3:11; Cl 1:18, etc.).
Tem três fases:
- “Cristo, as primícias” (1 Co 15:23a). Isso ocorreu quando o Senhor ressuscitou de entre os mortos (Mt 28:1-6). O caráter de Sua ressurreição é uma amostra daquilo que virá depois para os justos. Por isso, Ele é “as primícias” dessa ressurreição.
- “Os que são de Cristo, na Sua vinda” (1 Co 15:23b). Isso se refere aos santos do Velho Testamento e do Novo Testamento sendo ressuscitados no Arrebatamento (1 Ts 4:15-18; Hb 11:40).
- “[Eles] viveram, e reinaram com Cristo” (Ap 20:4). judeus e gentios fiéis que morrerem durante a septuagésima semana de Daniel serão ressuscitados ao final da grande tribulação, completando assim a primeira ressurreição (Ap 14:13).
A
segunda ressurreição (do injusto) ocorrerá no final do Milênio, que é o final
do tempo (Ap 20:5, 11-15). Naquele momento, os ímpios mortos serão
ressuscitados e julgados perante o grande trono branco, e depois designados
para uma eternidade perdida no lago de fogo (inferno).
7) Como Paulo andou pelo caminho da fé,
procurou crescer em sua apreensão sobre o fim glorioso para o qual ele foi
destinado pela graça de Deus. O “prêmio”
que ele perseguiu era estar com e ser
como Cristo em glória. Isso é algo
que todos os santos obterão quando o Senhor vier (2 Ts 2:14). Paulo reconheceu
que, naquele ponto de sua experiência Cristã, ele ainda não tinha a “posse” (JND) do prêmio – “Não que já a tenha alcançado [o prêmio], ou que seja perfeito” (Perfeição, na maneira como fala dela
aqui, é ter plena conformidade com Cristo no estado glorificado – v. 21.) Mas
Paulo queria um conhecimento mais profundo do por que ele foi preso por Cristo,
e assim disse: “Para que eu saiba
apreender [alcançar] aquilo pelo qual sou também preso de [alcançado por] Cristo Jesus” (v.
12 – Tradução W. Kelly).
A
revelação do Mistério em Efésios e Colossenses manifesta o “propósito dos séculos” (ATB) de Deus (Ef 3:11). Ele é apresentado
nessas epístolas principalmente como uma questão de doutrina, então Paulo
estava ciente dessas coisas, tendo sido o escritor delas. Mas ele queria mais;
queria conhecer o coração daqu’Ele que o escolheu para aquele lugar que terá
com Cristo no dia vindouro de manifestação. Não tendo alcançado o fim divino
para o qual fora chamado, ele seguiu em frente no caminho da fé em sua busca
por um entendimento mais profundo disso.
Vs.
13-14 – A busca de Paulo pelo seu objetivo de alcançar Cristo em glória foi o
foco singular de sua vida. Ele havia removido todas as coisas estranhas dela
para poder dar toda a sua atenção à busca desse objetivo único. Ele disse: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma
coisa faço, e é que,
esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante
de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação [do chamado ao alto – JND] de Deus em Cristo Jesus”. Novamente, ter um foco tão singular é o Cristianismo normal – todos nós deveríamos ter esse
tipo de foco em Cristo!
Paulo
sabia que o maior obstáculo para seguir Cristo em glória era colocar “confiança na carne”, numa busca
terrena ou qualquer outra busca (v. 4). Isso era exatamente o que os mestres judaizantes
estavam promovendo e, assim, eram uma praga para o Cristianismo. Eles
precisavam ser identificados como maus obreiros e tratados como tais (Gl
5:7-10). A mensagem de Paulo foi exatamente o oposto; tinha a ver com “esquecendo-me das coisas que atrás ficam...”. Isso se refere à ambição que ele uma vez
teve de ser um grande homem no mundo religioso. Esta afirmação é frequentemente
retirada do contexto e aplicada a coisas ruins que uma pessoa pode ter feito,
ou a coisas tristes que ela possa ter experimentado em sua vida. Para
consolar-se sobre essas coisas, a pessoa vai citar essa afirmação sobre o
esquecimento. No entanto, Paulo não está falando de esquecer coisas tristes e
ruins; ele está falando em deixar atrás as chamadas coisas “boas” que uma vez perseguiu e que o distinguiram entre seus pares
– coisas de que a carne podia se orgulhar e que o mundo admiraria.
Nós vemos aqui uma progressão do
exercício em relação às coisas anteriores que Paulo tinha perseguido. Quando se
converteu, ele tratou essas coisas como “perda”;
então, ao seguir adiante em sua experiência Cristã, ele as viu como realmente eram – como “refugo”. Agora ele fala dessas coisas como algo que ele estava “esquecendo” completamente. Note que “esquecendo” e “avançando para” são indicados no tempo presente. Isso mostra que
foi um exercício contínuo em sua vida. Isso nos ensina que não há tempo para
ficar ociosos em nossas vidas Cristãs, porque se pararmos em nossa busca por
Cristo, mesmo por um pouco, provavelmente voltaremos às coisas que outrora
buscávamos.
Paulo
prossegue “para o alvo, pelo
prêmio”. Isso não
significa que estivesse tentando apressar o dia de alcançar Cristo em glória
antes do tempo designado por Deus; isso acontecerá para todos os crentes ao
mesmo tempo – no arrebatamento. O objetivo era ter total conformidade com Cristo. Insistir
nessa direção é buscar agora, de todas as formas possíveis, ser como Ele, moral
e espiritualmente. E, uma vez que naquele dia nós “conheceremos”, como também somos “conhecidos” (1 Co 13:12), quanto mais crescemos agora em apreensão
daquele conhecimento, nesse sentido, estamos chegando mais perto desse dia
quando teremos então o conhecimento completo.
A
frase: “o alto chamado de Deus em Cristo
Jesus” (traduzido como tal na KJV) pode
levar a erro. Uma pessoa poderia
pensar que Paulo estava falando em tentar ganhar o prêmio mais alto que será
dado no céu ao mais dedicado servo do Senhor. Se fosse isso a que ele estava se
referindo, então ele realmente não havia julgado seus antigos desejos da carne em
ser o melhor e ter o mais elevado lugar de honra no judaísmo – mas é que agora
ele perseguia o prêmio no Cristianismo. Contudo, essa tradução na KJV não é a
melhor. O versículo deveria ser lido: “o
chamado ao alto” (JND). Refere-se ao chamado celestial do Cristão estando com e como Cristo, onde Ele está, no alto. É a porção de todos os
crentes, não apenas para uma pessoa que se destacou acima de seus irmãos na fé
e boas obras. “Alto” significa
simplesmente “acima”, no céu. O
sentido em que Paulo usa a palavra “prêmio”
refere-se ao que todos os Cristãos
receberão no dia vindouro.
Assim,
vemos a partir desses sete novos
desejos de Paulo que houve uma renovação completa em todo o seu propósito de
viver. Essas coisas não são exercícios extraordinários que só seriam
encontrados em um apóstolo, mas é o que caracterizam o Cristianismo normal. Assim, todos nós devemos ter
esses desejos!
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