A Cura para a Ansiedade
Paulo
passa a apresentar uma série de coisas que poderiam ser chamadas de “A cura
para a ansiedade”. Primeiramente, ele
diz: “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo,
regozijai-vos”
(v. 4). Assim, devemos manter um espírito de regozijo em todos os momentos.
Esse deveria ser o estado normal da nossa vida diária e isso acontecerá quando
andarmos em comunhão com o Senhor. Isso é importante porque, quando as
dificuldades e as provações da vida surgirem, estaremos em um estado de alma
correto para lidar com elas. Podemos desculpar nossa falta de regozijo e dizer:
“Não posso evitar isso por causa de todas as coisas negativas que continuam
acontecendo comigo”. O Senhor entende nossa fragilidade humana e, quando nos
desanimamos no caminho, Ele derrama o conforto de Deus em nossas almas. Mas, ao
mesmo tempo, a exortação de Paulo aqui mostra que somos responsáveis em fazer
um esforço para manter um estado feliz de alma. Ele coloca sobre nós o dever de
nos regozijarmos “sempre”. É o
estado Cristão normal. Isso não significa que devemos ser insensíveis à
tristeza e aflição, mas que em tempos de tristeza e aflição, essas coisas não
nos farão perder a confiança em Deus (Lc 22:32). Assim, independentemente de
quão sombrias nossas circunstâncias possam ser, podemos sempre nos regozijar no
Senhor.
Em
segundo lugar, Paulo diz: “Seja a vossa moderação [bondade
– JND] conhecida de todos os homens.
Perto está o Senhor” (v. 5 – ARA). Outras traduções trazem a palavra “moderação” como “equidade” (ARC) ou “mansidão”
(ATB). Isso indica que devemos viver num espírito de equidade ou mansidão que
aceita nossas circunstâncias vindas de Deus sem resistência e rebelião. Saber
que “todas as coisas
contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” nos ajuda a nos submetermos ao que o Senhor permitiu em
nossa vida (Rm 8:28).
A
nota de rodapé da Tradução do J. N. Darby diz que uma leitura alternativa para “moderação” poderia ser “não insistindo em seus direitos”. Isso
sugere que podemos estar em uma situação na qual sentimos que alguém levou
vantagem sobre nós e sermos tentados a reivindicarmos nossos direitos e contra-atacar.
Paulo explica que não precisamos ficar agitados em tais circunstâncias, e
sentirmos que temos de fazer algo a respeito – porque “perto está o Senhor!” Ele está prestes a voltar a qualquer
momento, e sabendo disso, podemos deixar tudo para Ele resolver corretamente.
H. Smith disse: “Em Seu próprio tempo, o Senhor tratará com todo o mal e trará
toda a bênção; Sua vinda está próxima. Não é para os crentes, então, interferir
no governo do mundo, nem reivindicar seus direitos e lutar por eles” (The Epistle to the Philippians, pág.
23).
“Perto
está o Senhor” foi uma palavra de ordem usada
entre os Cristãos do primeiro século para animar um ao outro no caminho.
Era-lhes um lembrete bem-vindo de que a vinda do Senhor estava próxima. Paulo
usou em 1 Coríntios 16:22 uma transliteração grega da sua forma aramaica,
quando disse: “Maranata”. Isto
significa “Ó vem Senhor”. Seu ponto
em usá-la aqui em Filipenses 4 é mostrar que podemos nos permitir ceder nas
situações difíceis da vida – mesmo que algumas pessoas tenham sido injustas
conosco – porque o Senhor está vindo, e então Ele acertará tudo. Em vista da
proximidade da vinda do Senhor, nossas diferenças e disputas são
insignificantes e triviais. Além disso, a pessoa que é caracterizada pela
brandura e complacência de que
Paulo fala aqui, não é capaz de provocar conflitos entre seus irmãos. Um
espírito manso promove a unidade e a paz. Por outro lado, uma pessoa com um
espírito inflexível, que está sempre insistindo em seus direitos (reais ou
imaginários), será uma pessoa de difícil convivência na assembleia. Esta pode
ter sido a raiz do problema em Filipos.
Vs.
6-9 – Em terceiro lugar, devemos
levar tudo a Deus em oração em nossas vidas – e particularmente aquelas coisas
que nos são problemáticas e perturbadoras. Ele diz: “Não
estejais inquietos [ansiosos – ARA] por coisa
alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela
oração e súplica, com ação de graças” (v. 6). Assim, Deus quer que estejamos livres de cuidados. Isso não
significa que podemos ser descuidados em nossas responsabilidades na vida;
Paulo está falando sobre ser livre de agitação, aflição e preocupação. Deus
quer que sejamos despreocupados, não descuidados. Devemos entregar nossos
fardos e cuidados ao Senhor em oração. Ele quer que os lancemos todos sobre Ele
(1 Pe 5:7; Sl 55:22). A palavra “tudo”
neste versículo quer dizer tanto coisas grandes, quanto pequenas. Não há nada
muito pequeno para se levar ao Senhor em oração.
Que amigo temos em Jesus,
Todos os nossos pecados e tristezas a
suportar:
Que privilégio levar
Tudo a Deus em oração!
Oh, que paz muitas vezes perdemos;
Oh, que dor desnecessária suportamos!
Tudo porque não carregamos
Todas as coisas a Deus em oração.
Hinário “Echoes of Grace” nº 282
“Oração” é uma declaração formal das coisas para
Deus, enquanto que “súplica” é o
contínuo apelo a Ele em relação a um assunto. Assim, oração é geral; súplica é específica. Em súplica, “derramamos”
nossos corações diante d’Ele com rogos sinceros (Sl 62:8; Tg 5:16). Então deve
haver também “ação de graças”.
Agradecer ao Senhor no problema, mesmo antes que Ele tenha respondido,
manifesta fé – e Deus honra a fé (1 Ts 5:18; Hb 11:6).
Além
disso, Paulo nos encoraja a tornar nossas “petições”
conhecidas de Deus concernentes a essas coisas. Nossas petições na oração podem
não ser respondidas da maneira que queríamos que fossem – pois podemos pedir “mal” (Tiago 4: 3) e elas podem não ser
“segundo a Sua vontade” (1 Jo 5:14-
15). Mas há certo consolo em apenas nos aliviar diante do Senhor e fazer nossas
petições serem conhecidas por Ele. Ele prometeu levar Seu povo pelas “águas” profundas da vida (Is 43:2,
63:9) e acalmar nossos espíritos em tempos difíceis – “Multiplicando-se
dentro de mim os meus cuidados, as Tuas consolações recrearam a minha alma” (Sl
94:19). W. Kelly disse: “Próximo está o
Senhor’. Ele ainda não veio, mas você pode ir até Ele agora e colocar todas
as suas petições diante d’Ele, certo de que está próximo; de que Ele está
vindo” (Lectures on Philippians pág.
69). Um resumo do versículo 6 é:
- Ansioso por nada.
- Orando em tudo.
- Grato por qualquer coisa.
O
próprio Senhor disse: “Não andeis
inquietos [em ansiedade – JND]” (Lc 12:29). Preocupar-se e estar
aflito sobre algo problemático em nossas vidas é pecado, porque nega o amor de Deus, a sabedoria de Deus e o poder
de Deus. Isso questiona se Ele, afinal, realmente nos ama, e questiona se
realmente sabe o que está fazendo em nossas vidas, implicando assim que Ele não
é capaz de cuidar de nós, como prometeu fazer.
Vs.
7 – Como mencionado, Deus não promete conceder tudo o que pedimos, mas promete
nos dar Sua paz. Paulo diz: “E a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos
em Cristo Jesus”. O tipo de paz a que Paulo se refere aqui é algo
prático. Não é o mesmo que “paz com
Deus”, que tem a ver com a nossa aceitação diante de Deus por sermos
justificados pela fé (Rm 5:1). Como crentes no Senhor Jesus Cristo nunca
poderemos perder nossa paz com Deus,
pois ela está inseparavelmente ligada à salvação eterna de nossas almas, que
nunca poderá ser perdida. Mas um crente no Senhor Jesus pode não viver com a
paz de Deus em sua alma e, como
Marta, estará “ansiosa e afadigada com
muitas coisas” (Lc 10:41). Isso ocorre porque ele não entrega seus fardos
ao Senhor em oração, como Paulo ordena aqui.
A
paz de Deus é o estado de tranquilidade no qual o próprio Deus habita. Nada
perturba a paz que rodeia Seu trono. Ele descansa em perfeita calma e em um
estado de serenidade imutável. Nenhuma circunstância na Terra O pode abalar,
pois Ele está acima de tudo. Ele vê e conhece todo o sofrimento, tristeza,
violência, etc., que acontece neste mundo e não é indiferente a isso. Ele
intervirá para colocar tudo em ordem um dia, na Aparição de Cristo. E enquanto
esperamos o nosso chamado para o céu (o Arrebatamento), Deus quer que vivamos
na mesma paz em que Ele mesmo habita, para que nossos corações e mentes não
sejam perturbados pelas coisas problemáticas que surgem em nosso caminho na
Terra.
Paulo
diz que a paz de Deus “guardará vossos
corações e vossos sentimentos [pensamentos
– ATB]”. Note que guardar nossos “corações” é colocado antes de guardar
nossos “sentimentos”. Isso mostra que se nossas afeições
estão corretas – centradas em Cristo – nossos pensamentos estarão corretos também
(Pv 4:23). Assim, ele diz que é “por
meio de Cristo Jesus” (KJV). Se nossas mentes “permanecerem” n’Ele e em Suas coisas, as tempestades da vida podem
soprar, mas nós seremos sustentados em meio a elas (Is 26:3). É uma paz
inexplicável que “excede todo o
entendimento” e é conhecida apenas por aqueles que a experimentam fazendo
essas coisas que Paulo exorta.
“A
paz de Cristo” (Jo 14:27; Cl 3:15) é um aspecto
ligeiramente diferente da paz prática. Refere-se à paz em que o próprio Senhor viveu quando andou por este
mundo. Ninguém viu problemas como Ele viu e ninguém sofreu como Ele. A
animosidade que Ele sofreu devido ao ódio e à rejeição dos homens pesou sobre o
Seu coração. No entanto, Ele tomou tudo em perfeita calma, sem ser indiferente.
Essa calma veio de Sua aceitação dessas circunstâncias vindas da mão de Seu Pai
em perfeita submissão (Mt 11:26). Ao deixar este mundo, Ele prometeu dar esta
paz aos Seus seguidores (Jo 14:27) porque eles teriam de passar pelo mesmo
mundo hostil. A diferença entre “a paz
de Cristo” e “a paz de Deus” é
que a paz de Deus resulta de levarmos nossos problemas e dificuldades para Deus em oração; enquanto a paz de
Cristo resulta de aceitarmos nossos problemas e dificuldades vindos de Deus em submissão.
V.
8 – Em quarto lugar, depois de
entregarmos nossos problemas ao Senhor em oração, devemos conscientemente
voltar nossos pensamentos para coisas melhores e mais excelentes, e pensar
nelas. Paulo diz: “Quanto ao mais,
irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto [nobre – JND], tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável [agradável – JND], tudo o que
é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum
louvor, nisso pensai”. “Nisso” que Paulo nos exorta a pensar
não são exatamente os gozos naturais da Terra para os quais devamos voltar
nossos pensamentos para nos regozijar, mas as excelências morais de Cristo.
Todas estas coisas foram encontradas n’Ele em perfeição quando andou aqui na Terra.
No entanto, o contexto da epístola – que tem muito a ver com a paz e a unidade
entre os santos – sugere que é para estarmos pensando nessas qualidades morais,
não tanto como são encontradas em Cristo pessoalmente, mas como são encontradas
em nossos irmãos. Assim, não devemos nos remoer sobre as imperfeições e
particularidades pessoais de nossos irmãos que podem nos irritar, mas sim “pensar” nas características de Cristo
que Deus está formando neles. Seja qual for a excelência moral que neles exista
e qualquer “louvor” que mereça, devemos
pensar nessas coisas. Tendo em vista o fato de termos mentes errantes que
geralmente tendem para coisas negativas, C. H. Brown disse que talvez tenhamos
de recompor nossos pensamentos 50 vezes por dia.
V.
9 – Por fim, devemos seguir o exemplo
de Paulo e estarmos ocupados usando nosso tempo e energia no serviço do Senhor.
Ele diz: “O que também
aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o
Deus de paz será convosco”. Estar ocupado no serviço do Senhor é
importante porque a ociosidade só dá oportunidade para os nossos pensamentos
voltarem às nossas dificuldades e problemas. Talvez todos já tenhamos dito uma
vez ou outra: “Eu tentei pensar em coisas boas e felizes, mas as coisas
perturbadoras que me incomodam continuam voltando à minha mente”. Isso
geralmente é dito por alguém que não está ocupado o suficiente. A resposta é
manter-se ocupado nas coisas do Senhor. Há muito que se fazer. O próprio Senhor
disse: “Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão
brancas para a ceifa”. (Jo 4:35).
A
promessa aqui é que teremos também “o
Deus de paz” conosco em nossas circunstâncias. Isto é, Ele nos concederá um
sentido especial de Sua presença e nos manterá indo adiante – mesmo nos
momentos mais difíceis. Compare Daniel 3:24-25. W. Scott disse: “Oh! Ter a Ele
como seu companheiro de viagem; constantemente ao seu lado; seu Guia; Guardião
e Amigo – o Deus de paz!” (Young
Christian, vol. 5, pág. 128). Quando vivemos na presença consciente do “Deus de paz”, quem ou o que pode nos
incomodar? Esta é a receita de Deus para a paz em nossas presentes
circunstâncias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário