Vs.
3-8 – Paulo começa agradecendo a Deus pelos filipenses. Ele diz: “Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós”. Eles tinham sido uma fonte de
encorajamento para ele, e ele queria que soubessem disso. Sua conversão do judaísmo
ao Cristianismo rompera muitos laços ternos e fortes que mantinha com seus
compatriotas, e ele sentiu essa perda profundamente; mas o amor e
companheirismo dos filipenses ajudaram a preencher aquele vazio. Eles se
tornaram queridos e ele era grato pelo amor e cuidado que tinham para com ele. Também
queria que soubessem que estava orando por eles, e assim diz: “Fazendo sempre com alegria [gozo
– JND] oração por vós em todas as minhas
súplicas”. Acrescentar as palavras “com alegria” significava que ele tinha
boas lembranças do tempo que ficou com eles.
Mais
particularmente, Paulo agradeceu a Deus por sua “cooperação
no evangelho desde o primeiro dia até agora”.
Isso se refere ao apoio monetário deles aos servos do Senhor que saíram para
pregar a Palavra em outras regiões. Isto é bastante notável porque era uma
assembleia muito pobre. Eles davam à obra do Senhor da sua “profunda pobreza”, indo “acima
de seu poder” para fazê-lo – e o fizeram “com gozo” (2 Co 8:1-3). Paulo foi o destinatário
desta graça pelas mãos de Epafrodito (Fp 4:18), enquanto ele estava encarcerado
em Roma e agora estava escrevendo para agradecer-lhes por sua bondade. Seu
interesse e apoio ao evangelho não haviam diminuído “desde o primeiro dia” (veja Atos 16), “até agora”. Esse foi um período de cerca de dez anos – aproximadamente de 51 d.C. a 61
d.C. Os filipenses realmente haviam ministrado a Paulo desta maneira em mais de
uma ocasião (Fp 4:14-15; 2 Co 11:9). Isso mostra que seus corações estavam no
lugar certo e que era uma assembleia espiritualmente saudável. É sempre uma
marca de declínio espiritual quando uma assembleia perde interesse no
evangelho. Tal não foi o caso com os filipenses.
Note
que Paulo não fala deles pregando o
evangelho, mas sim da comunhão deles
com o evangelho. Os próprios filipenses não saíam por regiões afora para pregar
– eles tinham responsabilidades seculares a cumprir e não estavam livres para
sair no trabalho missionário. Mas o coração deles estava com esse trabalho e
ministravam àqueles que saíam dessa maneira para o evangelho. Paulo diz que, ao
fazer isso, eles eram “participantes”
naquela obra da graça, e Deus certamente Se lembraria do sacrifício deles pelo
nome de Cristo (v. 7). Isso mostra que, se não formos capazes de romper com
nossas responsabilidades seculares para nos dedicarmos a tal obra, ainda
podemos fazer parte desse trabalho apoiando monetariamente aqueles que estão,
por assim dizer, nas “linhas de frente”. Aqueles que assim o fazem
compartilharão as recompensas no dia vindouro.
Barzilai, Sobi e Maquir são
exemplos desse ministério no Velho Testamento. Eles proveram a Davi e a seus
homens que participavam da batalha, mas eles mesmos não estavam diretamente
envolvidos no conflito (2 Sm 17:27-29, 19:32). Davi apreciou a bondade deles e lhes escreveu um Salmo de
agradecimento, que às vezes é chamado de “O Salmo de Barzilai” (Sl 41). Em
Lucas 19:11-27, o Senhor falou do valor desta obra nos bastidores. Ele mostrou que se não pudermos
entrar diretamente no trabalho e “negociar”
nossa “mina”, podemos pelo menos
colocá-la “no banco” e retirar a
remuneração dos juros quando Ele voltar (v. 23). É significativo que a palavra
traduzida do grego como “banco” em
Lucas 19:23 tenha também um sentido semelhante à palavra traduzida como “comunhão” aqui em Filipenses 1:5. Os filipenses foram exemplares
neste trabalho de auxílio. Uma pergunta que podemos nos fazer a respeito disso
é: “Que comunhão tenho eu com o evangelho?”
V.
6 – A condição espiritual saudável dos filipenses deu a Paulo a confiança de
que continuariam no caminho Cristão até o fim. Ao fazer tal sacrifício como
fizeram, Paulo percebeu que Deus “começou a boa obra” neles e tinha certeza de que isso levaria ao
seu triunfo final no “dia de Jesus
Cristo”. Como regra, Deus olha para Seu povo tendo em vista o que serão
quando Seu trabalho neles estiver completo. Assim, ao olhar para o triunfo
final deles, como Paulo faz aqui, vemos que tinha a perspectiva de Deus para
com os filipenses. O início da obra
de Deus nos crentes é o novo nascimento e sua conclusão não é quando recebem a Cristo como seu Salvador e são
selados com o Espírito, mas quando forem glorificados como Cristo (Fp 3:20-21)
e manifestados em glória no dia vindouro (2 Ts 1:10).
“O dia de Jesus Cristo” (cap. 1:6, 10, 2:16) é aquele tempo quando
Deus mostrará publicamente os santos com Cristo em glória – o Milênio. Os
galardões que os santos receberão no tribunal de Cristo serão então manifestos
(1 Co 3:13; 2 Tm 1:12; Fp 2:16). Assim, o dia de Cristo começará na Aparição de
Cristo e continuará durante todo o Milênio (1 Co 1:8, 3:13, 5:5; 2 Co 1:14).
Ele é abreviado como “aquele dia” em
alguns lugares nas epístolas de Paulo (2 Ts 1:10; 2 Tm 1:12, 18, 4:8). “O dia de Cristo” não é o dia do qual o Senhor falou no cenáculo quando disse: “Naquele dia ...” (Jo 14:20, 16:23,
26). O Senhor estava falando dos dias atuais, quando o Espírito viria morar na
Terra, na Igreja. Nem é do mesmo dia que os profetas do Velho Testamento
falaram quando disseram: “Naquele dia
...” (Zc 12:3, 4, 6, 8, 9, 11; 13:1, 2, 4 , etc.) – que é o dia do Messias
na Terra em relação a Israel. Em
contraste com o que os profetas falaram, o dia de Cristo tem a ver com a Sua
glória celestial com a Igreja sendo
manifestada.
Aprendemos
deste versículo 6 que todos nós somos uma obra em progresso. Assim sendo,
precisamos ter a perspectiva de Deus quando olhamos uns para os outros; caso
contrário, é provável que nos tornemos críticos em relação às particularidades
e falhas de caráter nos outros. Nós tendemos a ver a imperfeição presente uns
nos outros em vez de ver o que a futura glorificação fará. Isso pode ter sido o
que, no fundo a razão dos desentendimentos entre as duas irmãs na assembleia em
Filipos (cap. 4:2). O remédio do Sr. Darby para isso era: “Se você não pode ver
Cristo em seu irmão, então veja seu irmão em Cristo”. Ele também disse: “Eu
vejo a carne em mim e Cristo em meu irmão” (Miscellaneous
Writings of J. N. Darby, vol. 4, pág. 214). Olhar o povo de Deus dessa
maneira nos livrará de conflitos e disputas. Isso é algo que Paulo abordará no
segundo capítulo.
V.
7 – Mantendo este princípio de olhar para os santos sob a perspectiva de Deus –
o que eles serão como um produto acabado – Paulo disse: “Como
tenho por justo sentir isto de vós todos”
(v. 7). Ele sabia (provavelmente por meio de Epafrodito) que as coisas não eram
perfeitas em Filipos, mas escolheu olhar para eles como o que seriam quando
a obra de Deus neles estivesse completa. Sua confiança nesse resultado foi baseada no fato de que eles o tinham em
seus corações. (A KJV diz: “Eu tenho
vocês em meu coração” – o que certamente é verdade, mas não é o ponto dele
aqui. Deveria ser traduzido de outra maneira – “Vós me tendes em vossos corações” – JND) A afeição deles por Paulo
era uma clara evidência de que foram nascidos de Deus, pois todo aquele que é
nascido de novo ama aqueles que também são nascidos de Deus (1 Jo 5:1).
Paulo
lhes diz que por meio de sua comunhão prática com a obra do Senhor, eles se
tornaram “participantes” nos
sofrimentos relacionados ao evangelho que Paulo estava suportando em “prisões”. E, por meio desse ato de
bondade e consequente identificação, também se tornaram “participantes” com ele na “defesa e confirmação
do evangelho”. O evangelho é defendido por nossa insistência verbal em sua verdade, e isso é confirmado por nosso andar e caminhos.
Isso significa que Paulo não apenas falou
do evangelho, mas também o mostrou
com sua vida. O inimigo está sempre procurando falsificar as boas novas, seja
corrompendo sua mensagem introduzindo erro ou tentando denegrir o caráter de
seus mensageiros. Uma defesa verbal da verdade do evangelho, bem como uma demonstração
adequada dele exibido no caráter Cristão são, portanto, necessárias. Essas duas
coisas andam juntas. Os homens de Gideão que
tinham uma “buzina [trombeta – ARA]” em uma mão e uma “tocha”
na outra ilustram esse importante equilíbrio (Jz 7:16). É inútil tentar uma
defesa verbal do evangelho se o que ensinamos não for confirmado por um sólido caráter Cristão. Como podemos
esperar que as pessoas aceitem o que pregamos e ensinamos quando seguimos os
caminhos do mundo como qualquer outra pessoa que não tem fé?
V.
8 – Paulo clamava por Deus como testemunha do fato de que amava os filipenses
tanto quanto eles o amavam. Ele diz: “Deus me é testemunha
das saudades que de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo”. “Entranhas”
é uma antiga palavra que descreve nossos mais profundos sentimentos e afeições.
Assim, Paulo verdadeiramente os amava. É interessante que diz que era “entranhável afeição de Jesus Cristo”. Isso significa que ele os amou com o mesmo caráter de
amor divino que o Próprio Senhor tinha por eles.
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