Paulo
traça sete passos para baixo que o
Senhor deu em Sua grande condescendência.
1) Ele, “Que, sendo em forma de
Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”. Esta é uma declaração da verdadeira Deidade de Cristo.
A palavra “forma” é usada nesta
passagem no seu sentido antigo que se refere à matéria ou substância integral
de algo. O sentido e o uso moderno da palavra transmitem uma ideia diferente.
Uma pessoa pode ser levada a pensar que o Senhor Jesus era um mero esboço de
Deus, ou que Ele Se parecia com Deus. Isso absolutamente não é o que Paulo está
dizendo. O Senhor Jesus não Se parece com Deus – Ele é Deus! (Jo 1:1) O
argumento de Paulo aqui é que, visto que Cristo é Deus e tendo igual parte na
Divindade, Ele não “estima”
(considera) que a glória disso seja “um
objeto de rapina” (JND) – algo a ser agarrado e segurado a todo custo.
Assim, Ele estava disposto a abrir mão do que legitimamente Lhe pertencia como
Deus para descer para ser nosso Salvador. Este é um fato de admirável
humildade.
2) Ele “esvaziou-Se” (ATB) – Ele não estava
apenas disposto a descer para nos alcançar em nossa necessidade, mas Ele provou
isso esvaziando-Se. De que Ele Se esvaziou? Certamente não era da Sua “forma” de Deus – Sua Deidade. (Se Ele Se
esvaziasse de Sua Deidade, deixaria de ser Deus, o que é impossível!) Todos os
confiáveis mestres bíblicos concordam que o Senhor Se despojou de Sua glória exterior como Deus – a divina insígnia externa de Sua Deidade. Por exemplo, J. N. Darby disse:
“Cristo... esvaziou-Se por meio do amor, de toda a Sua glória exterior” (Synopsis of the Books of the Bible,
edição de Loizeaux, em Filipenses 2, pág. 501).
É importante entender que, ao esvaziar-Se de
Sua glória exterior, Ele não deixou de ser tudo o que era como Deus. Da mesma
forma, um general cinco estrelas pode ir para casa ao final do dia e tirar o
uniforme, que o identifica como tal, e colocá-lo em uma cadeira. Ao fazê-lo,
ele removeu a insígnia externa daquela distinta posição – mas ainda é um
general cinco estrelas! Assim, o Senhor Se
despojou da Sua glória, mas não da
Sua Deidade. Foi da glória de Sua igualdade posicional
com Deus que Ele Se esvaziou, não Sua igualdade pessoal com Deus. Ele “vendeu
tudo quanto tinha” (Mt 13:46). Isso envolvia abrir mão dos direitos de Sua
Divindade e prerrogativa de agir como Deus, embora Ele fosse Deus. Esta é uma maravilhosa
demonstração de humildade.
3) “Tomando a forma de servo” –
Ao tomar a humanidade e uni-la à Sua pessoa tornando-Se um Homem (Sua encarnação),
o Senhor desceu ao lugar de Suas criaturas, embora Ele mesmo não fosse uma
criatura. Ao fazê-lo, ocultou Sua Deidade em carne humana (Jo 1:14; 1 Tm 3:16;
Hb 10:20). Como no versículo 6, aqui a palavra “forma” não significa um mero esboço, mas a parte integral e a
substância de algo. Assim, enquanto permaneceu sendo Deus plenamente, Ele Se tornou
um Homem real – e de um modo completo, tendo um espírito humano, uma alma
humana e um corpo humano. Essa união de Sua natureza divina e Sua natureza
humana é inescrutável (Mt 11:27).
Este passo para abaixo envolveu aceitar limitações de criatura que
acompanham a humanidade. Como tal, Ele Se colocou sob a autoridade de Deus como
um “Servo”. Isso era algo novo para
Ele, pois nunca estivera em uma posição de sujeição antes; na eternidade
passada, Ele era o Comandante de tudo no universo! Assim, nunca soube o que era ser
obediente e, portanto, “aprendeu
obediência” por Sua experiência em sendo Homem (Hb 5:8). Isso não significa
que Ele passou por um processo de tentativa e erro em Sua experiência de
aprendizado, mas sim que aprendeu por experiência como era o obedecer. Ao
contrário de outros homens, Sua obediência foi perfeita; não houve nela
tentativa e erro.
Sendo Quem Ele era, quando o Senhor Se tornou
um Homem, poderia ter trilhado qualquer caminho da vida que escolhesse. Ele
poderia ter tomado a forma de um grande rei ou de um imperador, e cercado a Si
mesmo de riqueza e opulência, mas não, por Seu próprio ato de humildade, Ele
tomou o lugar de um servo! Assim, não veio para que outros O servissem; Ele
veio para servir aos outros (Mt 20:28). Estava aqui inteiramente para fazer a
vontade de Seu Pai (Sl 40:8; Mt 26:39). Alguém uma vez disse: “O egoísmo gosta
de ser servido, mas o amor gosta de servir”. Isso é o que caracterizou a vida
do Senhor (At 20:35). Mais uma vez, que inapreensível humildade de uma Pessoa
tão grande!
4) “Fazendo-Se semelhante
aos homens” – Isso não significa que o Senhor apenas
parecia um homem. Ele era “semelhante
aos homens” porque era um Homem real. Externamente não parecia diferente de
qualquer outro homem. Ele não Se destacou entre Seus discípulos. De fato,
quando vieram prendê-Lo, Judas teve de identificá-Lo com um beijo – uma prova
de que não tinha uma auréola. No entanto, enquanto era como qualquer outro
homem fisicamente, Ele não era como
qualquer outro homem moralmente,
porque não tinha uma natureza pecaminosa caída que todos os outros homens têm.
Sua natureza era santa (Lc 1:35). Portanto, Ele “não conheceu pecado”, “não
cometeu pecado” e “n’Ele não há
pecado” (2 Co 5:21; 1 Pe 2:22; 1 Jo 3:5).
5) “E, achado na forma [figura] de homem, humilhou-Se a Si mesmo” – Como Deus,
Ele Se esvaziou, mas como Homem, Se humilhou. “Humilhou” está no tempo aoristo no grego, o que significa que foi
uma coisa de uma vez por todas em Sua vida. Assim, esta declaração não está se
referindo a nenhum ato em particular de humildade, mas sim, está descrevendo a
soma de toda a Sua vida como um Homem. Quanto mais Se humilhou, mais foi
pisado. Sua reação era simplesmente descer mais. Sua mente sempre foi a de abnegação
própria
6) “Sendo obediente até à morte” – Isto mostra que não havia profundidade à qual o Senhor
não descesse em Sua condescendência. Não é que Ele tenha obedecido à morte; esta
não tinha domínio sobre Ele, pois era imortal. Ele obedeceu a Deus e Sua
obediência levou-O até o ponto da morte. Ele preferiria morrer a desobedecer
(Hb 12:4).
Note
que Paulo não está falando aqui do que o Senhor realizou na morte para fazer
expiação pelos nossos pecados. Ele está colocando Cristo diante de nós como
nosso grande Exemplo a seguir; nunca poderíamos segui-Lo no que fez como o Emissário
do pecado ao fazer expiação pelo pecado. É Sua humilhação que está diante de
nós, não Sua obra de expiação.
7) “E
morte de cruz” – Este passo levou Cristo ao mais baixo
ponto de Sua condescendência. Podemos pensar que teria sido suficiente que Ele
morresse, mas padecer uma morte de vergonha na cruz é
realmente inconcebível. Ele foi injustamente acusado de praticar o mal e condenado à morte (Mt 26:59-66). Foi
então despido (Sl 22:17-18), pregado a uma cruz romana (Sl 22:16), e deixado
para morrer (Sl 22:19-21a). Não poderia haver nada mais humilhante.
O Senhor poderia ter morrido de alguma outra
forma em que Sua dignidade tivesse sido preservada, e haveria, diante do mundo,
honra e glória conectadas a ela. Mas não, Ele morreu em “fraqueza” (2 Co 13:4) e em “vergonha”
(JND) (Hb 12:2) no lugar de um criminoso! (Lc 23:32-33) Esse é o melhor exemplo
de humildade. Ele estava disposto a Se rebaixar a tal ponto que morreria despido
em uma cruz, e isso para que Ele pudesse ser uma bênção para os outros!
Perguntamo-nos em Tua mente humilde,
E dispostos gostaríamos de Contigo estar,
E todo o nosso descanso e prazer encontrar
Ao aprender, Senhor, de Ti.
Hinário
“Little Flock” nº 230
Novamente,
o grande ponto a ser visto nesses versículos é que o Senhor desceu esses passos
por vontade própria. Ele o fez voluntariamente! Paulo
O colocou diante de nós como nosso grande Padrão de humildade. No exemplo de
Cristo, temos o segredo do livramento de todo egocentrismo e disputas carnais que causam desunião na assembleia. Se o
mesmo sentimento desprendido do Senhor estivesse “entre” os santos, e cada um não pensasse tanto em si próprio e em
manter seu lugar ou posição na assembleia a qualquer custo, mas voluntariamente
assumisse o lugar abaixo, a contenda e a disputa nunca se iniciariam. O “sentimento [A mente]” (atitude) de
Cristo está em direto contraste com o espírito de importância própria que é
evidente entre os homens em todos os lugares. Ele desceu mais, mais e mais.
Estamos dispostos a fazer isso? Colocando isso no contexto do que está diante
de nós no exemplo de Cristo, se estivéssemos dispostos a ir tão longe como
morrer por nossos irmãos, é improvável que fôssemos achados brigando com eles!
Lembro-me de ter ouvido falar de um homem que
estava viajando em um desfiladeiro nos Andes com sua mula totalmente carregada.
A estrada era extremamente estreita, o suficiente para apenas um viajante de
cada vez. A estrada era esculpida na montanha com um precipício íngreme do
lado. Ele seguiu em frente, uma curva após outra. Quando chegou a uma curva, o
que você acha que ele viu? Outro homem com sua mula totalmente carregada
olhando para ele! O que eles iam fazer? Os dois homens discutiram as
possibilidades. Perguntaram um ao outro se podiam se lembrar da distância de
algum lugar onde o caminho se alargava para que dois pudessem passar. Talvez
eles pudessem conduzir os animais até aquele ponto. Outra ideia era descarregar
os animais. Mas enquanto os homens discutiam, as duas mulas resolveram o
problema. Uma ficou de joelhos e chegou o mais perto possível da montanha,
então a outra passou por cima dela! Resolver um impasse entre os irmãos é simples assim. Se
ocorrer, precisamos ser os primeiros a descer e ocupar o lugar abaixo, deixando
os outros passarem por cima de nós.
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